quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sobre críticas

Na sexta-feira santa, assisti a um daqueles filmes que trazem mensagens legais de uma forma bem descontraída. O filme se chama Ratatouille, que, não por acaso, levou o Oscar de melhor animação. O longa conta a história de um rato que sonha ser um grande cozinheiro. Sim, os ratos são os maiores inimigos das cozinhas, daí já se tem um contraste bem definido. É por isso e também pelo fato de Remmy não ser humano que se tornar um chef renomado pode ser impossível. Mas enfim, o que mais me despertou a atenção foi a crítica que o gastronômico Anton Ego fez no final do filme ao restaurante no qual comeu um Ratatouille, prato que deu nome ao longa. As palavras de Ego encaixam-se perfeitamente em qualquer outro tipo de crítica, quem sabe até sirvam de exemplo para a produção de críticas verdadeiramente interessantes. Por isso venho transcreve-la para vocês...

“De várias maneiras, o trabalho de um crítico é fácil. Nós arriscamos muito pouco e, a despeito disso, desfrutamos de uma vantagem sobre aqueles que submetem seu trabalho, e a si próprios, ao nosso julgamento. Nós nos refestelamos escrevendo crítica negativa, que é divertida de escrever e de ler. Mas a verdade amarga que nós, críticos, temos que encarar é o fato de que, no grande esquema das coisas, até o lixo medíocre tem mais significado do que a nossa crítica assim o designando. Mas há momentos em que um crítico verdadeiramente arrisca algo, e isso ocorre na descoberta e na defesa do novo. Noite passada, eu experimentei algo novo, uma refeição extraordinária preparada por uma fonte singularmente inesperada. Dizer que tanto a refeição quanto quem a preparou desafiaram meus preconceitos é uma grosseira simplificação. Ambos me abalaram em meu âmago. No passado, não fiz segredo do meu desdenho pelo famoso lema do Chefe Gusteau: Qualquer um pode cozinhar. Mas só agora verdadeiramente percebo o que ele queria dizer. Nem todo mundo pode se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar. É difícil imaginar alguém com origem mais humilde do que o gênio agora cozinhando no restaurante Gusteau’s e quem, na opinião deste crítico, não é nada menos do que o maior chef da França. Estarei voltando ao Gusteau’s em breve, faminto por mais”.


Por Marcos Montenegro

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