Viagem ao meu eu

Estive pensando em pensar na minha forma de pensar. Ao refletir, pensei em como discutir com a minha mente se a minha discussão é fruto da minha própria mente. Cheguei a uma conclusão que um diálogo entre Marcos ‘fora’ e Marcos ‘dentro’ seria interessante, desde que minha mente estivesse disposta a pensar por dois lados.

- Vamos discutir nossa relação?
- Nossa relação ou minha relação? Se é que existe relação entre eu e eu, caso eu seja dois eus. – respondeu a mente.
- Ué, porque nós somos você e não eu?
- Porque eu sou o seu motor, seu cérebro, sua vida. Eu sou as suas idéias.
- Como é que você sabe? Antes de você ser minhas idéias, elas foram formadas com influências de vivências externas, as quais você não teve nem terá acesso. Quando eu vivencio algo, esse algo passa pelos meus critérios de seleção e vejo se ele entrará ou não na minha cultura, no meu repertório de vida.
- Legal, mas para você ‘selecionar’ e ‘formar’ sua vivência externa, primeiro você precisa pensar. E esse pensar exige a minha participação. Afinal, eu sou o seu cérebro, eu sou você.
- Mas se você fosse eu, como seria possível estabelecer um diálogo entre eu e eu?
- Isso se chama pensar.
- Que bom, pensei que eu estivesse ficando louco.
- Faz sentido. Já que ser louco é ser diferente do convencional.
- Não entendi.
- Não é todo mundo que pensa, por isso pensar não é convencional. Logo, pensar é ser louco. Seria bom se todo mundo tivesse consciência do quanto é importante ser louco para ser alguém para si e para o mundo.
- Então não seria mundo, seria hospício.
- Talvez, mas um hospício no qual os loucos seriam a solução para os problemas contemporâneos.
- O que você quer dizer com isso, minha amiga eu?
- A resposta disso não sou eu nem ninguém quem vai te dizer, e sim o seu pensar, que somos nós.

Por Marcos Montenegro