quinta-feira, 20 de março de 2008

Trabalhador-de-cada-dia-nos-dai-hoje

São 18 horas. Todo mundo saindo do trabalho com fome, sono e cansaço. O ponteiro da gasolina está na reserva. O ar condicionado está quebrado, pra variar. Tudo deu errado. Henrique não conseguiu cumprir metade das tarefas que seu chefe mandara. Sua mulher está com TPM, Felipe está doente e Laurinha tem tirado notas baixas na escola. Além da duradoura visita da sogra. Todo domingo Juliana pede pra mãe ficar pra assistir big brother com o genro e os netos. Chega sexta e a bendita ainda não foi embora (sábado D. Marcela vai embora, senão os bixos morrem de fome). Deve ser por isso que Henrique é contra a aposentadoria. Resultado: stress total.

Não, as buzinas não soam como música nos ouvidos de Henrique. Mas ele vai “com a galera” e cai na onda do bi-biiii, fom-fooom. Os botões que até então o enforcavam já estão desabotoados. Aquele calor infernal toma conta do carro e as axilas de Henrique estão chorando desesperadamente. De 10 em 10 quilômetros ele chega lá. Sim, ele chegou! As 19:58.

- &@#% (@# *&!@%! Duas mulheres que passam o dia em casa sem fazer *&%%@ nenhuma, chega uma hora dessas e a janta ainda não está feita. &@*$!$@&!

Agora é que Laurinha não consegue recuperar suas notas. Seu estudo foi interrompido pelas discussões dos adultos. Felipe, coitado, não consegue nem falar. Parece que morreu e esqueceram de enterrar. A poita? Quer dizer, D. Marcela? Finge que nada está acontecendo... Vai começar Duas Caras e ela está com o volume da TV no 38.

Ah... Henrique desiste do stress, vai tomar banho e se acalma. Juliana está emburrada, que saco. Henrique, como sempre, faz as vontades da esposa e pede uma pizza, apesar de ele já ter comido um misto quente. A mulher alega estar cansada. Afinal, ela passou o dia todo falando mal do povo, é muita gente pra falar. Além disso, ela fez o almoço: arroz com ovo e uma farofinha. A preguiça não permitiu um bifezinho e um feijãozinho verde. Haja paciência...

Todo dia é a mesma coisa. Henrique cansou. Vai “deixar a vida lhe levar”. Nada mais abalará o trabalhador-de-cada-dia-nos-dai-hoje. Há tanta coisa mais interessante que o stress. O tempo perdido poderia ser aproveitado para coisas mais legais. Agora Henrique teve a idéia de ligar o som do carro para voltar cantando para casa. Assim o trânsito e o tempo passam mais rápido. Ao chegar em seu lar, ele pede gentilmente à esposa um suquinho com um misto quentezinho. Nem dá tanto trabalho assim. Ele tenta não notar a presença da sogra, mas não adianta. Ela só vai embora no sábado. Nem tudo são flores né meu amigo? Laurinha e Felipe notaram a mudança do pai e resolveram colaborar. Cada um com seu papel.

Todo final tem que ter um final feliz. Esse final pode ser hoje ou amanhã. Então, só nos resta viver. Quem sabe assim a felicidade não chegue só no final, e sim no 'desfecho' de cada dia.

Por Marcos Montenegro

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